A Aldeia de Castelo Rodrigo
A coisa que mais surpreende ao chegar a Castelo Rodrigo é a conjugação das vistas extensas com o silêncio. E a seguir a Serra da Marofa, que sobranceira, sempre terá recordado aos locais que não são invencíveis.
A Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo é um espaço monumental, onde o passado se mantém vivo nas pedras das suas velhas muralhas e nas ruas empedradas que guardam histórias de coragem e lealdade.
Este pequeno recanto do Distrito da Guarda preserva valiosas referências medievais, destacando-se como um destino incontornável para quem deseja mergulhar na história de Portugal.
Entre os monumentos que enriquecem o património histórico de Castelo Rodrigo, merecem especial atenção as antigas muralhas que circundam a aldeia, as enigmáticas ruínas do Palácio de Cristóvão de Moura, o Pelourinho quinhentista, a igreja matriz e a cisterna medieval. Estes elementos não só embelezam o local, mas também narram episódios de uma comunidade que, ao longo de mais de 600 anos, foi vila e sede de concelho, desempenhando um papel significativo na história nacional.
O território de Riba-Côa, onde se insere Castelo Rodrigo, foi habitado desde tempos remotos, como comprovam vestígios paleolíticos, megalíticos, castrejos, romanos e árabes. A importância estratégica deste território, especialmente durante o Período da Reconquista, é evidente nas doações feitas aos freires Salamantinos, fundadores da Ordem de São Julião do Pereiro, e aos frades de Santa Maria de Aguiar, oriundos de Zamora. O Mosteiro de Santa Maria de Aguiar, uma fundação cisterciense do século XII, é um testemunho importante desta época.
A herança histórica da região é rica e diversificada. Achados do Paleolítico, cultura megalítica e vestígios castrejos estão presentes na toponímia local. A presença romana é marcada por numerosas lápides epigrafadas e por 17 estações arqueológicas, principalmente restos de villae romanas. A ocupação muçulmana também deixou traços indeléveis, visíveis na cisterna e em algumas casas dentro do castelo.
As primeiras menções escritas a Castelo Rodrigo datam da época da Reconquista Cristã, destacando a importância que os reis de Leão atribuíram ao repovoamento deste território. Em 1170, D. Afonso Henriques conquistou a povoação aos mouros, mas ela seria novamente perdida e reconquistada por D. Sancho I em 1209, que concedeu o seu primeiro Foral.
Castelo Rodrigo foi finalmente integrada no território português a 12 de setembro de 1297, pelo Tratado de Alcanizes. D. Dinis, ao confirmar o seu Foral em Trancoso em 1296, mandou repovoar e reconstruir o castelo, fortificando ainda mais esta povoação que se encontrava frequentemente em guerra. Durante a crise de 1383-1385, Castelo Rodrigo apoiou D. Beatriz e D. João de Castela, motivo pelo qual D. João I, o Mestre de Aviz, puniu a vila, invertendo o escudo das armas reais no brasão da aldeia.
Mais tarde, D. Manuel ordenou novamente o repovoamento e a restauração do castelo, concedendo um novo Foral em 25 de junho de 1508.
Castelo Rodrigo também desempenhou um papel importante como ponto de passagem para os peregrinos que seguiam para Santiago de Compostela, sendo acolhidos e cuidados por uma confraria de frades hospitaleiros estabelecida em Portugal desde 1192.
Hoje, ao percorrer as ruas de Castelo Rodrigo, o visitante é transportado para um passado repleto de histórias fascinantes e lutas pela defesa do território. Cada pedra, cada monumento, conta um capítulo da rica história desta aldeia que, apesar das vicissitudes ao longo dos séculos, permanece como um símbolo de resistência e identidade cultural na região da Guarda.