Ermida da Nossa Senhora das Fontes

A Ermida da Senhora das Fontes é, à semelhança de todas as outras, um lugar ermo, fora da povoação, com um santuário ao qual afluem peregrinos que se desejam dirigir à Virgem Mãe, no caso, a Nossa Senhora das Fontes, num diálogo em primeira pessoa. 

Situa-se no limite da Freguesia de Sorval, à estrada Este da povoação de Santa Eufêmia. Está sinalizado por uma cruz de pedra. 

Algumas terras de Santa Eufêmia foram doadas aos ermitões de Nossa Senhora das Fontes, para sustento da ermida.

O primeiro Ermitão da Senhora das Fontes foi o irmão Manoel de São José, corria o ano de 1740. Supeita-se que era de boas famílias, pois era culto e conhecedor da botânica e das propriedades medicinais das ervas às quais recorria para tratar os locais. Esta circunstância ter-lhe-á granjeado estima nos lugares onde pedia esmola para o santuário, que se sabe se estendiam por um território vasto, entre terras de Foz Côa e de Sabugal, até à raia de Espanha. Consta também que era admirado pelos seus dotes de oratória e digno de confiança.

Foi em 1740 que Manoel de São José se terá proposto a edificar neste lugar uma nova capela.. A ideia original terá sido a de edificar pelo menos um templo que pudesse “responder às necessidades dos romeiros e à dignidade que a Virgem merecia”, substituindo a velha e humilde capelinha que existia à época no lugar.

O Bispo de Viseu, D. Luiz Coutinho apoiou e encorajou a ideia, quando esta lhe foi apresentada. 

Em 1759, sob o reinado de D. José e sob ordem do Marquês de Pombal datada de 3 de Setembro, os Jesuítas foram expulsos. Em consequência desta ação, os monges cessaram a atividade em praticamente todo o país. Esta circunstância ditou a causa da ruína de muitos dos mosteiros em Portugal. Porém Manoel de São José, o Ermitão da Senhora das Fontes, continuou o seu trabalho. O resultado dos seus peditórios era repartido entre os mais necessitados e a construção daquilo que acreditava que poderia vir a ser uma “Santa Casa da Misericórdia ou um hospício religioso”.

No início de 1771 a nova capela estava concluída e o santuário estava criado. A licença ara a bênção  da capela e a sua consequente abertura ao culto foi pedida a 13 de Maio e lavrada a 1 de Junho. 

Esta capela veio depois a ser Matriz de Santa Eufêmia.

O Santuário é em tudo semelhante ao convento da Senhora da Serra do Pilar, no Porto, porém numa escala mais comedida. 

A entrada faz-se através de um portão para um largo. Deste largo passa-se depois para outro, e a seguir para um terceiro. Entra-se depois num pequeno jardim. No terceiro largo está implantada a capela da Senhora das Fontes. Os edifícios para os ermitões e para os romeiros são contíguos. Existia uma albergaria e uma hospedaria, para ricos e pobres que precisassem de pernoitar ou descansar. A capela-mor é construída em planta hexagonal. No seu interior, além da imagem de Nossa Senhora das Fontes, existem outras imagens e relíquias. Mas é de assinalar uma cruz de madeira de sabugueiro, feita à navalha por um pastor do Jarmelo, a qual não tem cola nem pregos, e cujo segredo da sua construção permanece ainda um segredo. No teto existe uma pintura que Será a representação do Fidalgo de Santa Eufêmia, de mãos dadas com a sua mulher e filhos. 

Por cima do portal principal existe um nicho de beleza ímpar que acolhe uma imagem de Nossa Senhora da Graça. 

 

No topo do beiral do telhado, uma cruz em granito rendilhado, que é única na região. Parecem de resto existir apenas mais duas semelhantes em todo o território nacional. 

Numa das faces do hexágono existe um acrescento em semi-círculo que serve de sacristia. Este engloba no seu interior mais duas capelas: uma dedicada a São Francisco das Chagas e outra dedicada a Santa Maria Madalena onde existe uma relíquia com a qual se benzia os animais mordidos por cães ou lobos. 

O último ermitão da Senhora das Fontes ainda é lembrado e talvez até por habitantes ainda vivos. Trata-se do irmão António das Chagas, do Toito, uma anexa da Freguesia Ribeira dos Carinhos, na Guarda. Entre as memórias dele uma reza que ele oferecia bolachas às crianças que visitavam a ermida. 

Os últimos habitantes do casario do eremitério foram Augusto Fernandes “Lebre”, com a sua esposa e filhos; pastores dos arrendatários das propriedades da ermida, Augusto Carapito e Manuel José Monteiro, que obtiveram um contrato de arrendamento com o presidente da comissão da fábrica da Igreja, o pároco José Bernardo dos Santos, em 1951. O pároco, em 2014 ainda era vivo e residia em Cerdeira do Côa. 

Após o desaparecimento dos ermitões, as outrora grandiosas festas da Ascensão do senhor, ou do Senhor da Pedra, celebradas em Maio; e a festa da Senhora das Fontes, em 8 de Setembro, perderam brilho, também em consequência da diminuição dos rebanhos e, mais tarde, da proibição do uso de pirotecnia por causa dos incêndios. 

Nota Final

Este texto é um resumo de um artigo extenso, publicado por António Santos Gama, em setembro de 2022, no portal Medium, cuja leitura sugerimos a todos os que quiserem aprofundar os seus conhecimentos acerca deste maravilhoso lugar.