Ruinas do Bogalhal Velho

É impossível ficarmos indiferentes ao Bogalhal Velho.

Este é um daqueles lugares que são ignorados nos roteiros. Um daqueles lugares tímidos, escondidos das pessoas em geral e apenas conhecidos por alguns afortunados que têm a inquietação de palmilhar e ir a todo o lado.

As Ruínas do Bogalhal Velho são os vestígios de uma aldeia medieval que se chamou Santa Maria de Porto de Vide, que poderá ter sido edificada em cima de ruínas de um eventual castro fortificado. Terá sido abandonada na idade média. As suas ruínas, num planalto, sobranceiras ao rio Côa gozam de uma vista que faz com que este lugar esteja bafejado com uma solenidade, talvez asseverada pelas ruínas da igreja, cujo portal visigótico ainda se mantém em pé. Possivelmente foram estas duas circunstâncias,que deram origem à lenda. Tudo junto dita que este lugar esteja envolto numa espécie de magia e mereça demorada visita.

Num dia de Sol as pessoas podem trepar nos inúmeros afloramentos rochosos e desfrutar das vistas avassaladoras. O Silêncio foi uma das coisas que mais me tocou quando visitei este lugar. Gosto sempre de me sentar, em silêncio e respirar os lugares que me tocam. Este não foi exceção. Ocasionalmente consigo ouvir os sons que a memória dos lugares guardam. Este não foi exceção. Este espaço convida mesmo ao recato e a permanecer assim. Toca-nos na alma e na nossa génese enquanto povo deste Portugal. Aqui ficamos com a prova de que Portugal tem um passado e que esse não vem de anteontem.

É sabido que esta região foi em tempos uma espécie de limbo que não se sabia se era Portugal ou Espanha. Neste tempo era de primordial relevância manter as populações nestes lugares para defender a nossa nacionalidade. Talvez venha daí uma possível relevância deste lugar que ditou que depois de abandonado tivesse continuado a ser visitado em procissões e celebrações religiosas.

Aqui estamos paredes meias com a Reserva Natural da Faia Brava, e em área protegida pela rede Natura 2000

O Rio Côa desbravou o seu caminho a custo nestes vales encaixados e difíceis de quartzito, onde corre agora manso, quase que prostrado, a fazer reverência à Serra da Marofa que lhe fica sobranceira e se impõe em toda a paisagem. 

As Ruínas do Bogalhal Velho não reúnem ainda assim condições para alguma vez vir a ser um foco de atração turística. E ainda bem, talvez não aguentassem tal pressão. Têm um coração demasiado fragilizado para isso. Mas vão certamente continuar a ser um beirão hospitaleiro que sabe receber e que depois de uma visita breve ou demorada, conquistarão o coração de todos. 

Daqui a Cidadelhe é só mais um saltinho. Há por lá um  cidadão à vossa espera para vos contar de um pálio, de Saramago e outras coisas tais.