Roteiro de Augusto Gil, na Cidade da Guarda

O presente roteiro foi criado originalmente pelo Museu da Guarda. O Roteiros da Guarda adaptou-o. Por um lado para que melhor pudesse servir online, mas sobretudo para desafiar as pessoas que fazem jogging diariamente a associar a sua atividade a um pouco de cultura e conhecimento local. Fizemos deste roteiro literário também um percurso linear para os de cá conhecerem melhor a nossa terra enquanto trabalham para manter a sua forma física. E até propomos dois níveis de dificuldade, dependendo do sentido em que se faça o percurso.

1. Rotunda do G - Homenagem a Augusto Gil (III)

No centro da Rotunda habita uma escultura da autoria de Lourdes Borges. Evoca a forma de um “G” estilizado de forma a que se possa assemelhar a uma forma antropomórfica feminina, aparentemente sentada num cadeirão moderno e com as pernas cruzadas. 

A norte, aproveitando a existência de um muro, foi pintado um painel que faz lembrar o Monumento aos fundadores dos Estados Unidos da América, em Mount Rushmore, onde constam, da esquerda para a direita, Sacadura Cabral, Nuno de Montemor, Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço, e por fim Augusto Gil. 

2. Cemitério Velho | Mausoléu de Augusto Gil

Augusto Gil faleceu em Lisboa, no dia 28 de Fevereiro de 1929. Tinha 58 anos. O corpo foi transferido para o cemitério da Guarda, onde se realizou o funeral, dois dias depois.

Os seus restos mortais estão num mausoléu que foi desenhado por João da Silva e mandado construir pela sua viúva, que usou para a construção do Mausoléu “o parco produto da venda dos direitos de autor dos livros do poeta”. Está localizado mesmo à entrada do Cemitério e tem inscritos na fachada dois versos do livro “Alba Pena” (1916): 

“E a pendida fonte, ainda mais pendeu…”

“E a sonhar com Deus, Com Deus adormeceu…”

3. Torre de Menagem

coração que palpitas, calmo e certo

num alto monte da sagrada beira

Perto do Céu (Que Deus quer tê-lo perto)

Longe de mim, para que eu mais lhe queira”

(…)

In: “Trova da Saudade” em versos (1901)

 

Na Mais alta cidade Portuguesa

Nasceu para abrandar o meu fundo mal,

A mais santa, a mais cheia de pureza

das moças deste lindo Portugal”

 

(…)

 

“Se passais, as tardes, e detrás, caindo

O Sol abrasa os longes da paisagem

A sombra que em sua frente vai seguindo

É a luz, a abrir-se, para lhe dar passagem”

 

(…)

 

In: “O fogo que o poupou de um poemeto queimado II”, em Luar de Janeiro (1909)

4. Rua General Póvoas, n°s 19 a 25

A Fontinha (entretanto retirada do local) era um chafariz que estaria à época no muro do quintal. Júlio Barreto Xavier construiu a sua casa neste lugar entre 1940 e 1943. A Fontinha terá desaparecido em consequência desta obra. 

 

Fontinha de água senil

Quase já nas despedidas

Foi aqui que Augusto Gil

Fez a “Canção das Perdidas

 

Canção da Guarda, de Júlio Ribeiro (1934) p. 49

 

A “Canção das Perdidas”,  integrada na obra “Luar de Janeiro” (1909), reza assim: 

 

“Nós temos o mesmo fado

Ó fonte de água cantante

Quem te quer, para um bocado 

Quem não quer, passa adiante”

5. Praça Luís de Camões e Catedral da Guarda

“Naquela praça então empedrada, Augusto Gil Costumava passear, embiocado no varino, arrumado à bengala, nas tardes frias de inverno.”

Augusto Gil terá passado parte da infância e da adolescência na “Praça Velha”. Os seus pais tinham residência perto.  Citação é a memória que chegou até nós pela boca de contemporâneos. 

 

“Dim-dim-dim, canta a “Garrida”

Nas torres da Sé da Guarda

Vai a vida de fugida 

E o meu bem tanto me tarda “

In LIV  “O Craveiro na Janela (1920)

A Reza das matinas era uma tradição que se perdeu no tempo; a reza das matinas. A Garrida era o nome que se dava a uma sineta colocada na torre Sul do monumento. Todas as manhãs a Garrida ecoava e os cónegos seguiam em direção à Sé para as suas orações matinais. Os primeiros dois versos referem-se a este ritual, entretanto perdido. 

Já o último verso remete para um texto histórico, muito mais antigo, atribuído ao Rei fundador da cidade, D. Sancho I.

“Ai eu coitada! 

Como vivo em gram cuidado

Por meu amigo

Que ei alongado 

Muito me tarda

O meu amigo na Guarda! “

Por esta e outras razões, Augusto Gil era considerado “um dos mais genuínos versejadores do trovar português”. 

6. Rua Augusto Gil - A casa onde viveu o poeta

A Rua Augusto Gil chamava-se originalmente “Rua da Victoria”. O nome desta rua mudou em 6 de Março de 1929 para perpetuação da sua memória, após a morte do poeta nesse mesmo ano.

 

Em 1973, por alturas da celebração do centenário do seu nascimento, foi colocada na casa de seus pais, onde ele viveu, uma placa memorativa. Só se veio a apurar mais tarde que afinal o poeta nasceu em 1870 e não em 1873. 

 

“Bonita de cães. Dezembro. No braseiro

Só restam, do carvão, cinzas agora. 

Rufa nos vidros, como um pandeiro,

A neve. E o vento, pelas frinchas fora,

 

Zumbe sinistro, estrídulo, agoureiro…

Para escrever a carta que te envio,

Desentorpeço as mãos à luz da vela

Mal fabricada, com que aluno. 

 

O inverno, aqui, neste degrau da Estrela 

Nem tu calculas como é triste e frio 

 

(…)

 

Sinto-me, dia-a-dia mais doente,

Perdi todo o espírito, a faísca.

Tornei-me bronco, inútil, indif’rente

E gasto as tardes a jogar a bisca 

 

Num clube reles, e de reles gente!

 

(…)

 

Seis horas da manhã. Escrevo a custo.

Sinto gelar-me a carne e o pensamento 

A neve não cessou  e infunde o susto

O fúnebre clamor que faz o vento

Adeus Diogo, vou deitar-me.” 

 

In “O que o Fogo Poupou de um Poemeto Queimado II”, em “Luar de Janeiro (1909)

7. Rua do Comércio, n°22

Augusto Gil casou com Adelaide Sofia Outeiro Patrício no dia 25 de Dezembro de 1912, tinha à data 42 anos e a sua esposa 34 anos. O casamento ocorreu cerca de 20 anos após o início do namoro. O facto comprova-se numa carta datada de 17 de Outubro de 1897, onde se refere que o namoro terá começado cerca de 5 anos antes. Não tiveram descendentes.

No dizer do seu sobrinho, João Patrício, Augusto Gil era muito janeleiro. Quando vinha à Guarda para gozar as férias de Verão, era habitual vê-lo à janela da casa da sua sogra, D. Adelaide Sophia Rodrigues Outeiro Patrício, sita no primeiro andar n°22 da Rua do Comércio.



8. Igreja da Misericórdia

“D. ADELAIDE SOFIA OUTEIRO PATRÍCIO GIL FALECEU DIA 30 de DEZEMBRO de 1953 LEGOU À SANTA CASA DA MISERICÓRDIA – esc. 23.000$00”

O texto em cima pode ler-se numa das várias placas epigrafadas que estão afixadas na parede interior da fachada da igreja da Misericórdia da Guarda, afixada pela mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Guarda, em jeito de agradecimento. 

À data, este montante era bastante avultado. 

9. Largo de São João - Homenagem a Augusto Gil (I)

Apesar de ser intenção das forças vivas da cidade erguer um monumento a Augusto Gil antes do seu falecimento, tal só veio a concretizar-se no ano de 1937.

O padrão que se encontra hoje no centro do Largo de São João foi originalmente erquido na Praça Luís de Camões (Praça Velha), o que causou alguma polémica. Este monumento foi transferido em 1940 para o local onde se encontra agora, onde ficou sem nunca ter sido inaugurado. 

Este monumento à época era considerado a mais bela obra de arte pública da cidade e tinha a particularidade de não ser uma homenagem a um culto do mundo da medicina. 

O autor é João da Silva (1880-1960), considerado um “expoente da cultura simbolista e O grande inovador da medalha cunhada em Portugal”.

O pedestal é encimado por uma escultura em bronze que faz alusão à Musa Polímnia, a qual tem a mão esquerda elevada, empunhando flores como se as estivesse a lançar. Com o braço direito segura uma cítara. No pedestal, na face principal, consta um medalhão em médio-relevo que representa o busto de Augusto Gil.

10. Antigo Liceu Nacional (Atual Escola Augusto Gil)

Augusto Gil concluiu o liceu nesta escola, em 1893. Mais tarde disponibilizou-se para um lugar de professor nesta mesma instituição no período que medeia a sua formatura e a implantação da República. Porém o conselho geral da escola não o considerou competente para ensinar a disciplina de Português. 

Em 1977, os professores da atual escola básica do 1° ciclo que entretanto se instalou neste edifício, escolheu o nome “Augusto Gil” para a rebatizar.  O poema “Balada da Neve” está afixado à entrada da escola. 

11. Museu da Guarda

O espólio de Augusto Gil está presentemente à Guarda do Museu homónimo. Quem o levou foi a viúva do poeta em testamento, onde expressou as suas últimas vontades. O espólio foi incorporado em 1954. 

Em 1966, João Carlos Nunes da Palma (1874-1966) doou o retrato ao Museu o retrato a óleo realizado por Columbano Bordalo Pinheiro.

O Museu veio a receber novas incorporações de bens do poeta que se encontravam na posse de familiares seus em 1975 e em 1983.

12. Onde acaba a Rua Alves Roçadas e começa a Rua Batalha Reis - Homenagem a Augusto Gil (II)

A rua Batalha Reis tomou este nome em 1890. Estabelecia a  ligação entre o Campo de São Francisco (atual Jardim José de Lemos), e o antigo Sanatório, bem como  a Estrada Nacional 18. 

Neste lugar foi implantada uma escultura em mármore como tributo a Augusto Gil. A escultura, Intitulada “Como Quem Chama Por Mim”, é da autoria do escultor francês Gérard Queleillal (França), e foi realizada em 2016, no I Simpósio Internacional de Arte Contemporânea da Cidade da Guarda, Realizado pelo Museu Regional da Guarda.

13. Capela do Senhor do Bonfim

“Fui ao Senhor do Bonfim,

fui-lhe pôr um lindo ramo,

P’ra que ele me ponha a mim

no coração de quem amo”

 

In: “LXV” em O Craveiro da Janela (1920)

14. Capela de Nossa Senhora do Mileu

“Ó Senhora do Mileu

que estás num degrau da Terra

tão pertinho do Céu

e tão chegadinha à terra”

 

in: “XXVIII” em em O Craveiro da Janela (1920)

Percurso

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